Prediletos

25.8.03

Nunca amei Beatles nem Rolling Stones



Antes de agitar, use esta nota introdutória: talvez não fosse o caso publicar o presente post em Prediletos, visto o tom acentuadamente pessoal que se faz a seguir, denunciado já pelo título. Enfim,
a) não costuma ser do feitio deste autor escrever desta forma, mas na falta de espaço melhor para expor o abaixo... e não quis dizer que Prediletos é a casa-da-mãe-joana;
b) todos os posts de Prediletos são, de alguma forma, opinião pessoal;
c) em Prediletos pelo menos, não é necessária aquelas cínicas linhas encontradas em várias publicações que crêem tirar o "seu U da reta" ao dizer "os artigos assinados aqui publicados não exprimem necessariamente a posição desta publicação, sendo de responsabilidade exclusiva do autor das mesmas" ou algo assim;
d) este post tão pouco discutirá algo de maior relevância focado nas bandas mencionadas, sendo o título mera frase de efeito;
e) se se encheu desta nota, pule para outros posts anteriores, Prediletos tem muito mais a oferecer.
Eis o post em si:

Terça-feira última, rolou a apresentação do quarentenário Rolling Stones em sua turnê Forty Licks. As imagens deste post remetem ao ambiente daquele dia no Amsterdam Arena.



Este estádio, ao contrário do que o Ajax F.C. quer fazer o mundo acreditar, não lhe pertence. Mas, para todos os efeitos, de tanto o time utilizá-lo, dá-se o direito de ostentar enormes painéis com seu emblema pela fachada da construção, exibindo o dístico para quem por lá passar. A bem grosso modo, é como os torcedores de um time paulistano que acham que o Pacaembu é a casa da sua paixão. A analogia do universo da equipe holandesa com a corinthiana é pra lá de distante. Mas isto é discussão pra outra ocasião.
Pois o inevitável naquela data e local foram as comparações com situações correspondentes -presenciar os Stones no Arena e no Paulo Machado de Carvalho: comportamentos deste público na Holanda e no Brasil; a estrutura de ambos espetáculos; a performance dos músicos nestes 8 anos que separam um evento do outro.

Acima de tudo, foi ocasião para rever as tais diferenças culturais entre diferentes povos, formados por seres humanos que são, é necessário dizer, iguais em todo mundo, mas teimam em querer se distinguir uns do outros, a começar com esse rótulo perverso chamado "nacionalidade".
Inevitável notar alguns aspectos envolvidos numa circunstância destas. Recordando, os ingressos holandeses foram postos à venda há 9 meses. As vendas, somente via telefone, em horário estipulado. Em questão de minutos, dado como esgotados. O show anterior ao de Amsterdam foi em um anfiteatro para cerca de 2 mil pessoas (menor que a capacidade do antigo Palace de Sampa), em Utrecht: mal havia ingressos para quem ainda não era parte do fã clube da banda - supostamente os únicos que poderiam adquirí-los com alguma antecedência- e mesmo que habitante da cidade e insistentemente no redial de seu telefone touch tone. Restou saber de alguém que tenha conseguido adquirir entrada para este show desta forma. Quando o bilhete estampado na imagem ao lado foi obtido, eram passados 10 minutos do início das transações e não havia mais a opção de Utrecht, no local a 10 minutos de bicicleta de onde o autor deste post reside. E o lugar nos anéis superiores da arquibancada do Arena -de onde se vê a cena abaixo- foi a melhor barganha possível.

Achas que cambistas e ambulantes são coisas de país menos desenvolvido? A diferença é só que em asfalto holandês os produtos do merchandise não oficial da banda - talvez made in China- são vendidos por gente vestida de camiseta "Porto Seguro-Bahia" porque lá passou as últimas férias. E que o negócio "no negro" aqui parece mais promissor: circulou a notícia de que acontecia um leilão pra um ingresso de Utrecht que estava cotado à bagatela de 1000 ("hum mil") euros. (Mais um parêntesis: R.E.M. num show pra mil pessoas também em Utrecht, 2 meses antes, chegava a 100euros e presenciava-se cambista a abordar o pessoal que se dirigia ao evento para comprar-lhes os ingressos! ).

Também "gersismo" não é previlégio de gente que não vive o mundo desenvolvido. O tráfego de veículos na principal via da ligação Utrecht - Amsterdam normalmente é um tormento nos horários de pico e mesmo ainda no período de férias quando há uma debandada drástica de carros com placa holandesa para, por exemplo, o sul, na França, a situação de lentidão era sensivelmente maior devido ao evento do Arena, cujo público estimado para aquela noite foi de umas 50 mil pessoas. Esta é a oportunidade para observar carros de gente de posse, tipo audis, beemes, carrões com menos de 5 anos, a seguir pelo acostamento e entrando lá na frente, na primeira brecha dada por alguém, antes que a polícia consiga flagrar. Já na fila de acesso pelos portões do estádio, há penetras a todo momento, seja individualmente ou em bloco. Raras são as ocasiões em que há protestos mais veementes. O povo não parece se incomodar com essas coisas "menores". Pacificidade confunde-se com passividade. É fato que dificilmente há tumulto. Há uma admirável capacidade ordeira nestas multidões. Mas, falta por vezes seguidas um mínimo de delicadeza ao empurrar, desequilibrar ou pisar as partes corporais alheias. Simplesmente ignora-se, vai-se em frente. Quem são os brutos sem modos?

Engana-se quem espera que a marola domine a atmosfera local. Além de haver práticas policiais de coibição ao ato de fumar a sativa holândica em público -coisa prevista em lei, é comum também ouvir o comentário do cidadão local, de perfil sócio-econômico médio, já graduado em algum nível superior: "isso era coisa que eu fazia quando jovem" -mesmo se com isto a pessoa omita dizer que foi há 3 ou 4 anos que ela parou de dar uns pegas ou de aloprar geral. Ainda assim, óbvio que existem os freaks nativos mas estes devem estar muito ocupados, cultivando seus negócios. A fauna stoneana seja daquelas tardes chuvosas de janeiro de 95 nos arredores do piscinão do Sumaré ou 3 anos depois no Ibirapuera era visivelmente de uma média etária mais baixa e menos sóbria que a dos que compunha o ecossistema em terras baixas - o Arena por sinal é fundado em até uma meia dúzia de metros abaixo do nível do mar. A sensação inicial chega a incomodar mas passa. São pelo menos 3 gerações sob o manto da tolerância e seguridade, num momento de confraternização proporcionado pelos fósseis-vivos do rock. O velho e o novo e o atemporal num mesmo campo visual. Ainda que conflitos sejam inevitáveis, estes são os internos. Cabeças quentes são esporádicas, a coisa flui tão na paz e em matéria de vistoria então, não há algo mais meia-boca que as costumeiras batidas em shows daqui: facilmente entra-se com gravadores, câmeras, drogas. É questão de querer. Coisas mais óbvias como garrafas de bebidas e até inofensivas como pacote de salgadinhos são removidas com mais rigor. Talvez porque atrapalhem os serviços de alimentação oferecidos portões adentro.

Durante o show em si, o esperado. Profissionalismo, tecnologia e os usuais movimentos ensaiados de 13 artistas no palco e uma centena de contratados de bastidores para fazer o circo todo rolar. Nada comprometedor. E poderia-se destacar que Lisa Fisher disfarçava o corpo com uns kg extras mas ainda gostosona e com o vozeirão afinadíssimo, a boa mandada de Paint it Black e que Mick nem cantava Satisfaction, talvez já denunciando a fragilidade das cordas vocais ou das ligações sinápticas. Mas isto aqui não pretende ser resenha de publicação musical. Caso queira mais (e somente): R'N'R. Prefere-se apontar ao invés, a reação do público e a influência à banda ou vice-versa e como é estranho notar que aquilo que se costuma denominar clima contagiante não é regra quando se está em meio à fáunula considerada culturalmente avançada. Deve-se admitir que apreciar a todo o set list permanentemente sentado, calado ou vez por outra cantarolando algum hit maior e aplaudindo ao final de cada execução como se estivesse num concerto erudito, mas sempre imóvel sobre a cadeira, é esquisito pra ocasião. Não sou a pessoa mais credenciada para tal comentário já que não sou nenhum roqueiro dançante mais empolgado. Porém nem eu consigo tamanha disciplina. Pois era o que uma ampla parcela das pessoas que não se encontravam de pé na pista fizeram. E não era porque a faixa de idade lá já fosse mais próxima da senilidade. Já presenciou-se uma atitude similar em eventos esportivos e outras manifestações festivas também. Seria a tal pacificidade ou passividade? Certamente algo que salta aos olhos de quem é mais acostumado à cultura latina.

De qualquer forma, ainda reluto a acreditar que haja substanciais diferenças nos aspectos comportamentais das platéias de rock em geral se comparadas por países ou que pelo menos alguma distinção seja atribuída ao grau de desenvolvimento das diferentes sociedades. Públicos reagem ao que recebem. E artista que é artista, é quem conduz o mise-en-scène, afinal é pra isto que existe o palco. Mas, quer saber, sinceramente, se tiver algo relacionado com a cultura local, o fato diferencial mais gritante e assim mesmo mais ligado a organização do evento, foi verificar o tratamento respeitoso dado a gestantes e incapacitados físicos. A estes últimos dedicou-se um amplo tablado na região posterior da área de pista, um metro ou dois mais alto que o gramado, de onde tinham uma visão bastante confortável. Este cuidado com os desabilitados principalmente é coisa rara onde as terras são consideradas mais selvagens. Mas não se conclua que desleixo e falta de atenção à normas básicas de segurança sejam fatos excepcionais no velho mundo. Muitos de nós sabemos como as agências internacionais de formação de opinião selecionam as notícias que mais lhes interessam.

De resto, o que apontamos com relação ao "outro" costuma ser a simples ótica preconceituosa iluminada por um sentimento nacionalista besta. Ou o egoísmo tão animal e sapiens -do qual somos acostumados desde precoce idade- para comunicarmos seja lá o que for e ecoado por quem concorda. E as trevas pros que não espelham ao que queremos. E daí que até uma discussão do tipo quem é melhor, Beatles ou Rolling Stones, pode descambar num exercício de egolatria enrustida.

Automaticamente alimentamos um procedimento basicamente bipolar em nossos juízos de valores. O que não é bom, é ruim. Mais ou menos não diz nada: ou diz que não é bom e não assume que seja ruim. Quem não é o herói, certamente é o vilão. Quantitativamente ou qualitativamente. O agora ou o nunca -porque o daqui a pouco é intangível demais. Quais os critérios pra julgar-se a tudo que consideramos nos dizer respeito, o de quem está dentro ou o de quem está fora, direita ou esquerda, acima ou abaixo? Somos muito mal acostumados a considerar as ambivalências mais pelos seus opostos e pouquísimo pela própria natureza multi-espectral contida entre os extremos. O que falta mesmo é a prática de valorizar-se todas as partes. Encher a bola de uma coisa não necessariamente é tornar a outra coisa um bola-murcha. E sem fazer isto ainda mais extenso, nada melhor que ler sobre relatividades com quem habilidosamente foi capaz num site extensivamente informativo dele: Albert Einstein.
Não pude deixar a oportunidade escapar para mencionar o físico português que desafia a teoria einsteiniana da constante velocidade da luz: João Magueijo. Verifique uma série de resenhas sobre sua contestatória obra: Faster than the Speed of Light.

Perdoem-me ainda por mais esta: não sei se alguém já publicou que enquanto "rolling stones" resulta em pelo menos 1 milhão e 100 mil entradas via gugolpontocom, "beatles" dá muito mais que o dobro disto. Num gesto de merecimento, até mesmo porque os besouros encontram-se na Terra há muito tempo antes dos dinossauros, menciona-se a seguir -não deixem de conferir- estas fabulosas imagens da atual forma de vida dominante do planeta.






13.8.03

Uma câmera na mão e minhocas na cabeça

Amor!Não, nem todo mundo morreu, tem muita gente produzindo bom cinema e vídeo por aí. O curtaocurta é um site indepentende mantido por uma produtora de multimídia e tem mais de 100 filmes no acervo. Eles editam um jornal online, divulgam mostras em todo o país e disponibilizam produções independentes. Para isso o produtor manda pro site seu filme já digitalizado ou em fita de vídeo e, se for selecionado, fica em exibição. Disponível só em Real Player.

O dia em que Dorival Encarou o GuardaOutro que vale a visita é o Porta Curta Petrobrás, que tem um acervo razoável, com filmes premiados como Ilha das Flores, O dia em que Dorival Encarou o Guarda e o divertido Amor!. O usuário cadastrado pode personalizar sua cinemateca, conexão e player (Real ou Media). O site também permite a exibição dos filmes em blogs e tem um sistema de buscas excelente.

Volto depois pra falar de animações. That's all folks!

Vídeo-Inferno

Roberto Marinho foi passear e espero que não tenha levado junto o maravilhoso Beyond the Citzen Kane, documentário produzido pela BBC de Londres em 92 e desde então proibido por aqui. Tive a chance de vê-lo na faculdade, e não foi por acaso que a Globo vetou na justiça sua exibição: o documentário mostra a intimidade com os militares, políticos, indústria cultural e sua influência imoral no país. Tudo o que estamos carecas de ver, só que com nomes, sobrenomes e imagens. Se tiver estômago forte, baixe o documentário aqui. Os arquivos são grandes mas vale a pena esperar.

(cheguei, cheguei!)

7.8.03

Barcelona arquitetônica e de natureza gaudílica

Perambular em passeio por 5 dias na capital catalã é pouco. Seu encanto não se revela de imediato e quando se percebe, seria preciso muito mais tempo pralguma alegada exaustão. Há sempre muito mais a devorar, seja com o paladar seja tão somente com a visão. E a paisagem é inevitavelmente pontilhada por turistas e Antônio Gaudí. Ele conseguiu um feito. Tornar-se onipresente. Lá, respira-se suas obras, que parecem, perpetuarão por gerações e enquanto a humanidade souber zelar por todas suas louváveis transformações.

No prólogo de sua publicação La visió artística i religiosa de Gaudí, Salvador Dalí chegou a dizer categoricamente que o último gênio da arquitetura foi Gaudí: "um nome que em catalão quer dizer apreciar, prover prazer de. E explicou para Le Corbussier (a quem entrevistava naquela ocasião) que "prazer e deleite são características do Catolicismo e Gótico Mediterrâneo, reinventado e trazido ao paroxismo por Gaudí".

Deve haver muita controvérsia sobre isto, principalmente provenientes das firmas de arquitetura mundo afora. Mas que há muita gente dedicada a ainda desvendar muito do intricado legado deixado pelo "arquiteto da natureza" -denominação dada pela Editorial Mediterrània/Ediciones Librería Universitaria Barcelona a um livro lançado este ano- não resta a menor dúvida. Somente pelo Google.br mostram-se mais de 130 mil entradas relacionadas à busca unicamente pelo termo gaudi. Prediletos faz a seleção de 11. Um time que se preza como o Barça. Segue então a escalação.

Como guarda-metas, portando a jérsei número 1: não deixa passar uma. Garantindo a zaga tem o site do ayuntament e da cidade natal do gênio. De laterais, com exímio saber de art nouveau catalã e exibições em 3D. No meio-campo, com visão 360º(é só buscar por gaudi e localizar os ícones em movimento) e de olho para ambos os lados. Ainda, estes de pontas, direita e esquerda. E como não poderia faltar, 2 craques brasucas: aqui e ali

De técnico, vai o de conhecimento enciclopédico, algo já mencionado posts abaixo. Vai também, pra qualquer ocasião, o mascote: o cadastro pra buscas é grátis! E como não poderia faltar, uma "comissão técnica" e um torcedor. Ou seja, se tiver a oportunidade, saia da frente da tela e vá ver tudo isto in loco. 2004 em Barcelona deverá dar o que falar.

* esse post vai sem imagem pois mais valem as que se encontram em qualquer um dos links deste elenco. Prediletos de Gaudí: show de bola!

** o ranzinza "editor de visu" (ora vá...) deste blog, senhor aq, este que no finalzinho do post vos fala, pôs uma imagem, porque, pô, enfim, tinha de pôr.

1.8.03

Agosto e da predileção de cada um

Sem maiores delongas, apenas gostaria de saudar os companheiros Prediletos e agradecer ao Quadrado pela oportunidade.
A estréia neste mês de cachorro-louco é descaradamente calcada em algumas dicas da revista britânica Focus, da qual a Superinteressante também deve tirar muitas idéias. Alguém já disse algo como "da natureza nada se cria, tudo se copia e transforma"... não bem isto, óbvio, apenas deliberadamente distorcido para os propósitos aqui. Abaixo, 8 links sem relação maior entre si e somente uma referência ao oitavo ciclo mensal. Enfim, o algarismo em arábico "oito" tem sua graça, pois como o "zero", não tem começo nem fim, pé nem cabeça, como serão as contribuições a seguir.
Navegando ai? Pra onde? Teste tua geografia e passe o tempo com outros joguinhos mais instrutivos da Lyndsey de Toronto. De onde? Essa é simples. E Suriname? Usbequistão? Myanmar?
Chega a ser dramático verificar quanto se investe em inventos infrutíferos. Curioso notar que há um link para outra única versão, em português, que... funciona?
Esta dica não chega a ser vacina pra raiva, mas previne de alguma próxima tentativa de ludibriação.
Encha os olhos com as dimensões realmente fantásticas das espaçonaves mais incríveis já criadas pela mente humana.
E aqui as últimas palavras, mesmo que não tenham sido de fato as finadas.
* está se perguntando onde estão os tais 8 links? Ora, divirta-se com estes, afinal 8 ou 80...